Cânones de Concordâncias Evangélicas
As Tábuas de Cânones possuem uma posição de destaque em Bíblias e Evangeliários do Ocidente medieval, até pelo menos o século XIII. Tradicionalmente atribuídas a Eusébio de Cesaréia (séc. IV) esses esquemas gráficos possibilitavam uma melhor visualização das concordâncias entre os quatro Evangelhos, estando as passagens correlatas dispostas em colunas, emolduradas por representações arquitetónicas e iconográficas.
“(…) Este fólio de pergaminho contendo “Tábuas de Concordâncias Evangélicas”, foi identificado pelo Pe. Avelino de Jesus da Costa, em 1949. Apresenta, nas palavras deste autor, “o cânon de Eusébio com os lugares paralelos dos quatro Evangelistas” (…).
O fólio apresenta quatro conjuntos de Tábuas de Concordância (dois em cada face do pergaminho).
Uma das faces apresenta, na metade do lado esquerdo, um grande arco abrigando no seu interior quatro arcadas de menores dimensões. Os capiteis são vegetalistas e o arco principal, tal como os fustes, ostentam temas fitomórficos alternando com figuras de animais. Na metade do lado direito o espaço é estruturado por dois grandes arcos que abrigam, cada um, duas arcadas. Os capiteis são vegetalistas e os fustes das colunas possuem motivos entrelaçados.
Na outra face do pergaminho as Tábuas apresentam dois conjuntos com apenas três colunas (no lado esquerdo um arco abrigando três arcadas, no lado direito dois arcos com o interior subdivido em três arcadas). Os capiteis apresentam temas fitomórficos e figurativos (animais) e as colunas ostentam decoração organizada em duplo andar.
No seu desenho, ingénuo e pouco seguro, estas Tábuas utilizam uma paleta de cores relativamente diversificada (vermelhos, amarelos, verdes e azuis) e remetem para o universo estético do Proto - Românico ou do Românico: as colunas apresentam, nalguns casos, duplo andar (como vemos por exemplo em São Pedro de Roda e, entre nós, em Travanca), noutros casos motivos entrelaçados (que ainda recordam algumas pilastras dos templos pré-românicos). Os arcos, no entanto, são já de volta perfeita, afastando-se do universo estético moçárabe. A utilização alargada da figuração zoomórfica coloca estas Tábuas de Concordâncias na esfera do Proto - Românico ou, a confiar nas cronologias mais tardias propostas por alguns autores, já mesmo dentro do Românico”.