Cemitério e Capela da Atouguia - Projetos do séc. XIX
Em Portugal, desde a idade média até ao século XIX os mortos eram enterrados dentro das igrejas ou no adro das mesmas, conforme a sua classe social. Por norma, os mais ricos e proeminentes eram sepultados próximos do altar-mor e os mais pobres eram enterrados na entrada ou no adro das igrejas, com todas as consequências de insalubridade que provocavam nestes recintos.
Com o objetivo de solucionar os efeitos subjacentes ou o perigo de epidemias, foi publicado o Decreto de 21 de setembro de 1835, por iniciativa de Rodrigo da Fonseca Magalhães, que ditou a proibição dos enterramentos no interior das igrejas e a obrigação da construção de cemitérios municipais localizados fora dos limites das povoações. Todavia, esta imposição legal foi completamente ignorada, em particular nas zonas rurais e mais tradicionais da nossa sociedade.
Com António Bernardo da Costa Cabral no poder, foi promulgada a Lei da Saúde Publica a 28 de maio de 1844, que não só obrigou à inumação nos cemitérios e ao seu registo de óbito, como sancionou com multas e prisão a quem não a cumprisse.
CEMITÉRIO DA ATOUGUIA (1879)
Apesar destas exigências legais, no contexto da sociedade vimaranense, ainda não era cumprida na integra em 1870, conforme é observável no comentário inscrito na ata de 27 de março do mesmo ano, do então Presidente da Câmara Municipal, Luís Cardoso Martins da Costa de Macedo, futuro 1º visconde (1873) e 1º conde de Margaride (1877), “(…) que apesar de há 25 anos prescrever a lei e já muito antes a opinião sensata, cemitérios em todas as povoações, ainda para vergonha nossa se enterra aqui nas igrejas (…)”. No entanto, na mesma ata, já está determinado o local onde o cemitério municipal iria ser construído, estabelecido na sessão de 14 de janeiro de 1870, localizando-o na parte ocidental do Monte da Atouguia, bem como a aprovação de um pedido de empréstimo para a sua construção no valor de 8:570$407, destinado a terraplanagens, expropriações, muros, canos, pavimento e administração.
A inauguração ocorreu em 11 de maio de 1879.
CAPELA DA ATOUGUIA ([1891])
Igualmente relevante, foi também a construção da capela no interior do cemitério. A sua edificação efetuada no coração do cemitério teve início em 10 de junho de 1882, pela mão do mestre de pedraria Manuel Fontão.
Precedida por um conjunto de ações inerentes à sua aprovação e construção, esta obra ficaria dispendiosíssima à Câmara Municipal de Guimarães.
Na ata da sessão da Câmara de 15 de outubro de 1889, foi aprovado um regulamento para a sua utilização e administração, e em 1893 instituída uma tabela de emolumentos.
A ata da 2ª sessão da Câmara Municipal de 19 de outubro de 1891 refere que nessa data as obras da capela estavam concluídas.
Livro das sessões de vereação da Câmara Municipal de Guimarães, 1869-09-01/ 1870-07-15
Livro das sessões de vereação da Câmara Municipal de Guimarães, 1887-07-01 / 1890-04-14
Livro das sessões de vereação da Câmara Municipal de Guimarães, 1890/04/15 /1893/04/26
Catroga, Fernando (1999). O céu da memória: cemitério romântico e custo cívico dos mortos em Portugal: 1756-1911. Coimbra: Minerva.
Meireles, Maria José Marinho de Queirós (2000). O património urbano de Guimarães no contexto da Idade contemporânea (séc.XIX-XX): permanências e alterações, vol. I. Tese de mestrado em arqueologia urbana, Universidade do Minho, Braga, Portugal.
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