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Relato da proclamação da república em Guimarães

"Saíram desta cidade em direcção a Braga os grandes heróis da Proclamação da República, pelas 3 horas da tarde do dia 6 de Outubro e chegaram a esta cidade 9 horas da noite, em automóveis, empunhando Bandeiras Verde e Vermelha, símbolo cor da República. Estes cavalheiros eram o Veterinário da Câmara, um Beltrão e um José Teixeira de Abreu Carvalho, guardasoleiro (sic), Avelino de Faria, Mariano Rocha Felgueiras, Doutor Eduardo Almeida Júnior Guimarães. O Snr. Doutor Eduardo Almeida, da varanda do Senhor José Maria de Souto, discursou ao Povo, que estava proclamada a República em Portugal, ao que os republicanos responderam com muitos Vivas e palmas. Depois seguiram pelas ruas da cidade dando vivas à República, com archotes e bandeiras. E diziam-se que iam às casas dos Padres de Santa Luzia, mas prevenidas as autoridades, estas, mandaram para lá uma força de Infantaria 20 para não os incomodar, tanto a estes como o Seminário e às Doroteias.

Um malandro qualquer (foi) às Capuchinhas dizer que se acautelassem que iam lá pô-las fora. As pobres senhoras começaram a tirar os seus trastes para fora do convento até que ali se juntou muita gente comovida do sentimentos daquelas senhoras (e) ali contemplavam a grande praga da República e os seus efeitos que ia dar com as casas religiosas Isto deu-se no dia 7 à tarde. Dia 7,pelas 5 horas da tarde chegaram os Republicanos que tinham ido a Braga no dia 6 de Outubro e, chegados a Guimarães, à Rua de Paio Galvão (...), ali estavam todos os republicanos podres que em Guimarães há. Quando ali chegaram foram saudados pelos ditos republicanos que ali estavam à espera para seguirem com os vivórios pelas ruas da cidade, indo depois à administração (do concelho) aonde eram esperados pelos empregados da mesma. Seguiram dali pela rua D. Luís até ao Quartel do 20; ali chegados não os deixaram entrar. Voltaram para baixo e encontraram o capitão Infante e pegaram nele em charola a saudá-lo; este segue com eles, outra vez pela rua de D. Luís a baixo e tornaram à administração mas, ao passar à casa do Senhor Doutor Chaves, as criadas, que estavam às janelas, fecharam-nas todas e até as portas da rua. Chegados à casa da administração, subiram para cima e ali arranjaram uma vara de pinheiro muito tosca e pregaram nela um farrapo com as cores vermelha e verde mas muito ordinária (sic) e colocaram-na em uma das janelas e deram vivas à República. Esta bandeira foi colocada pelo Senhor Doutor Almeida Júnior. Em seguida este senhor saiu à varanda e deu os vivas à República e disse que estava eleito administrador e que pedia muita prudência e ordem e que desejava paz em todos para tranquilidade do País. A bandeira na administração foi colocada por um oficial do Regimento 20 que depois de a colocar deu um viva à República de Lisboa e retirou-se. Saíram dali e seguiram pelo Largo da Oliveira, Rua da Rainha, Toural (lado de cima), pararam em frente ao Hotel do Toural e ali o Capitão Infante içou uma Bandeira com as cores da República e deu o viva à República. Em seguida foram pela (rua) de S. Dâmaso, Trás do Muro e acabaram no largo da Oliveira; à Senhora da Guia mandaram a Banda Boa União embora e a outra Banda seguiu com eles até acabar. Dia 8, ao meio dia, reuniram as duas Bandas no Largo do Campo da Feira onde já ali estavam alguns republicanos dos mais rotos e um tal Violanta com uma Bandeira grande com as cores da República, mas muito velha, e outros republicanos com Bandeirinhas da República. Seguiram dali pela rua de S. Dâmaso, Trás do Muro, Largo de D. Afonso, Toural, rua de Santo António e em seguida (para) a administração. Ali deram vivas à República e já ali estavam o administrador e outras autoridades que seguiram dali para a casa da Câmara aonde estavam todos os empregados da mesma e muitos Republicanos e muita gente que para ali foi para ver implantar a grande Bandeira Republicana. Já ali estava o Regimento 20 com toda a oficialidade e música do mesmo Regimento. Apareceu à varanda da Câmara o Snr.Doutor Almeida, administrador, que fez um discurso. Em seguida içou num mastro a bandeira Republicana, levantando em seguida vivas à República. Em seguida tocaram as Bandas que ali estavam, a Boa União, os Guises e a do Regimento. Depois dos vivas, passou em seguida o Regimento em frente da casa da Câmara, seguindo pela rua da Rainha, rua de Santo António, rua de D. Luis, Largo do Carmo, até ao Quartel. No Largo, fora do Quartel, formou o Regimento com a Música (e), ali, o tenente coronel Flores levantou vivas à República, mas muito comovido; foi correspondido pelos republicanos que ali estacionavam; em seguida foi içada a Bandeira republicana na frente da fachada do Quartel, pelo senhor tenente coronel Flores e outro oficial, o snr. ajudante, que a puxou pela corda até ao fim do mastro. Foram dados outra vez os vivas à República. Em seguida marcharam para dentro do Quartel.

Os republicanos que ali estavam com as duas Bandas seguiram para baixo pela rua de Santa Maria e acabaram no Largo da Oliveira em frente à Câmara.

Dia 8, à noite, tornaram-se a reunir na rua de Paio de Galvão, em uma casa à esquina, do lado das escolas industriais. Ali esperaram pelos emissários republicanos que chegaram de Braga, os mesmos que tinham ido a Braga na véspera do dia 7. Chegados ali começaram a acender os archotes seguindo pela rua da casa Martins Sarmento, Toural (lado de baixo) até ao Largo de D. Afonso. Pararam em frente da casa do Snr. Luís José Gonçalves ou o Luís da máquinas, ali fizeram uma grande manifestação e insistiram que o dito Snr. colocasse no mastro que tem na casa, da agência de Vapores ingleses, a Bandeira Republicana. Este não quis pô-la e os ditos republicanos entraram na casa do dito snr. e colocaram no mastro um farrapo verde e vermelho, Bandeira Republicana. Todos satisfeitos, deram ali muitos vivas à República. Em seguida foram pelo Largo de D. Afonso, rua de S. Dâmaso, Trás do Muro, Senhora da Guia, rua da Rainha, S.Domingos, rua da Santa de Lima (sic), rua Nova da Oliveiras ou mulianas, outra vez ao Largo de D. Afonso, S. Dâmaso, Trás do Muro, à Senhora da Guia. Ali acabou a manifestação dos Republicanos. Depois dali, ainda ao Largo do Campo da Feira, e, em frente da casa do snr.José Fernandes, deram muitos vivas à Republica. As casas que mais se salientaram foi, na rua da Rainha, (de) um tal Mariano Rocha Felgueiras, umas velhas do Rocha dentista e as filhas do Conde do Arco.

6.X.1910 - Bandeira Republicana - José Maria do Souto comprou logo depois da aclamação da República, na noite de 6 de Outubro, em casa do Snr.Ramos, fazenda para uma Bandeira Republicana. No dia 7, pelas 5 horas, içou a bandeira Republicana na sua varanda com grande entusiasmo".

José Joaquim dos Alves, 1910

in "Sobre a República em Guimarães: 1910-1993". Coord. Fernando Capela Miguel - Guimarães: Câmara Municipal, 1993