Primeira Guerra Mundial
ÍNDICE
Prelúdio da GuerraEclodir da Guerra
- Batalha de Tannenberg
- Primeira Batalha do Marne
- Primeira Batalha de Ypres
- Campanha dos Dardanelos
- Segunda Batalha de Ypres
- Batalha de Verdun
- Batalha da Jutlândia
- Ofensiva Brusliov
- Batalha do Somme
- Batalha de Passchendaele
- Segunda Batalha do Marne
- Apresamento dos Navios Alemães / Austro-Húngaros
- Declaração de Guerra Alemã
- Biografias de Políticos
- Biografias de Militares
- Balanço final da guerra
- Os Tratados pós-guerra
- Europa pós-guerra (1922)
- Formação do CEP
- Combates na Flandres
- Guerra Colonial
- Biografias de Políticos Nacionais
- Biografias de Militares Nacionais
- Calão nas trincheiras
- Alcino da Costa Machado (Coronel)
- Alfredo Guimarães (Capitão de Cavalaria)
- Álvaro Machado (2º Sargento de infantaria)
- Joaquim Magalhães (2º Sargento)
- José Dias da Conceição (1º Sargento)
- José Joaquim Machado Guimarães Júnior (Médico)
- José Marcelino Barreira (Coronel)
- Sérgio Augusto dos Santos (Tenente)
- Silvestre José Barreira (Tenente)
Portugal e o Armistício (1916-1918)
A I Guerra Mundial veio surpreender Portugal numa altura em que a jovem República Portuguesa tentava afirmar-se domestica e internacionalmente. Dividiu o país em aliadófilos e germanófilos, em intervencionistas e anti-intervencionistas. Uma guerra vitoriosa poderia desbloquear a vida política, minada por querelas entre partidos e fações pessoais e o aumentar de tensões sociais. A defesa das colónias, o «perigo espanhol» e a consolidação e a legitimação nacional de regime foram as razões que levaram Portugal à guerra.
Em Março de 1916 a Alemanha declarou guerra a Portugal, na sequência do pedido inglês de requisição dos navios alemães surtos em portos portugueses. No entanto, no quadro colonial sem que o estivesse, de jure, Portugal estava, de facto, em guerra, desde meados de 1914. Combatia em duas frentes: Angola e Moçambique. Tudo se passava, porém, num teatro de guerra secundário e periférico, que não obrigara a uma declaração de guerra, nem sequer à beligerância. O essencial da guerra jogava-se na Europa.
Em 1917, ano em que as primeiras tropas portuguesas chegaram à Flandres, a guerra no campo de batalha tinha adquirido contrastes bizarros. Tanto na Frente Ocidental, como na Frente Oriental, a selvajaria do conflito andou a par de deserções em massa, amotinações e a confraternização, fruto do desgaste físico e psicológico de três duros anos de guerra. É um ano marcado pela Revolução russa, acontecimento que modificou a relação de forças em detrimento do aliados, pois desorganizou a máquina de guerra e a vontade de fazer a guerra. O estado-maior alemão aproveitou para deslocar para ocidente a quase totalidade das suas forças. No entanto, a entrada dos Estados Unidos no conflito ao lado dos aliados, em abril desse ano, deixou antever o restabelecimento do equilíbrio, e mesmo a sua inversão, com vantagem para os aliados. Em junho, foi aberta a Frente de Salónica que arrastou a Grécia para a guerra ao lado dos aliados.
E 1918, voltamos a assistir a uma guerra de movimento. A Alemanha desencadeou a "Ofensiva da Primavera", um conjunto de ataques ao longo da Frente Ocidental, onde se inclui a Batalha de La Lys em que o Corpo Expedicionário Português foi destroçado. Foi a última tentativa da Alemanha para vencer a guerra. Seguiu-se um contra-ataque aliado, a "Ofensiva dos cem dias", entre agosto e novembro, que forçou os exércitos alemães a recuarem para trás da Linha Hindenburgo e culminou no armistício de Compiègne. No dia 11 de novembro, pelas 11 horas da manhã, a Grande Guerra terminou.
Após o conflito, e sob a influência determinante de Wilson, seria constituída a Sociedade das Nações, que pretendia ser um fórum vocacionado para arbitrar conflitos entre os estados e impedir no futuro a repetição das guerras.
Apresamento dos Navios Alemães / Austro-Húngaros
Declaração de guerra Alemã
«Senhor Ministro. Estou encarregado pelo meu alto Governo de fazer a V. Ex.a a declaração seguinte:
O Governo português apoiou, desde o começo da guerra. os inimigos do império Alemão por actos contrários á neutralidade. Em quatro casos foi permitida a passagem de tropas inglesas por Moçambique. Foi proibido abastecer de carvão os navios alemães. Aos navios de guerra ingleses foi permitida uma larga permanência em portos portugueses, contrária à neutralidade, bem como ainda foi consentido que a Inglaterra utilizasse a Madeira como base naval. Canhões e material de guerra de diferentes espécies foram vendidos às potências da «Entente», e, além disso, à Inglaterra um contra-torpedeiro. O arquivo do vice-consulado imperial em Moçâmedes foi apreendido.
Além disso, foram enviadas expedições á África, e foi dito então abertamente que estas eram dirigidas contra a Alemanha.
O governador alemão do distrito. Dr. Schultz-Jena, bem corno dois oficiais e algumas praças, em 19 de Outubro de 1914, na fronteira do Sudoeste Africano alemão e Angola. foram atraídos, por meio de convite, a Naulila, e ali declarados presos sem motivo justificado, e, como procurassem subtrair-se à prisão, foram, em parte, mortos a tiro enquanto os sobreviventes foram à força feitos prisioneiros.
Seguiram-se medidas de retorção da tropa colonial. A tropa colonial, isolada da Alemanha, precedeu na suposição, originada pelo acto português, de que Portugal se achava em estado de guerra com o Império Alemão. O Governo português fez representações por motivo das últimas ocorrências, sem, todavia, se referir ás primeiras. Nem sequer respondeu ao pedido que apresentámos de ser intermediário numa livre troca de telegramas em cifra com os nossos funcionários coloniais, para esclarecimento do estado da questão.
A imprensa e o Parlamento, durante todo o decurso da guerra, entregaram-se a grosseiras ofensas ao povo alemão, com a complacência, mais ou menos notória, do Governo português. O chefe de Partido dos Evolucionistas pronunciou na sessão do Congresso, de 23 de Novembro de 1914, na presença dos ministros portugueses, assim como na de diplomatas estrangeiros, graves insultos contra o imperador da Alemanha, sem que por parte do presidente da Câmara, ou dalgum dos ministros presentes, se seguisse um protesto. Às suas representações, o enviado imperial recebeu apenas a resposta que no boletim oficial das sessões não se encontrava a passagem em questão.
Contra estas ocorrências protestámos em cada um dos casos em especial, assim como por várias vezes apresenta¬mos as mais sérias representações e tornámos o Governo português responsável por todas as consequências. Não se deu, porém, nenhum remédio. Contudo, o Governo Imperial, considerando com longanimidade a difícil situação de Portugal, evitou então tirar mais sérias consequências da atitude do Governo português.
Por último, a 23 de Fevereiro de 1916, fundada num decreto do mesmo dia, sem que antes tivesse havido negociações, seguiu-se a apreensão dos navios alemães. sendo estes ocupados militarmente e as tripulações mandadas sair de bordo. Contra esta flagrante violação de direito protestou o Governo Imperial e pediu que fosse levantada a apreensão dos navios.
O Governo português não atendeu este pedido e procurou fundamentar o seu acto violento em considerações jurídicas. Delas tira a conclusão que os nossos navios imobilizados por motivo da guerra nos portos portugueses, em consequência desta imobilização, não estão sujeitos ao artigo 2.0 do tratado de comércio e navegação luso-alemão, mas sim à ilimitada soberania de Portugal, e, portanto, ao ilimitado direito de apropriação do Governo português, da mesma forma que qualquer outra propriedade existente no pais. Além disso, opina o Governo português ter procedido adentro dos limites desse artigo, visto a requisição dos navios corresponder a uma urgente necessidade económica, e também no decreto de apropriação estar prevista uma indemnização cujo total deveria mais tarda ser fixado.
Estas considerações aparecem como vazios subterfúgios. O artigo 2.0 do tratado do comércio e navegação refere-se a qualquer requisição de propriedade alemã em território português. Pode ainda assim haver dúvidas sobre se a circunstância de os navios alemães se encontrarem pretensamente imobilizados em portos portugueses modificou a sua situação de direito. O Governo português violou, porém, o citado artigo em dois sentidos, primeiramente não se mantém na requisição dentro dos limites traçados no tratado, pois que o artigo 2.0 pressupõe a satisfação duma necessidade do Estado, enquanto que a apreensão, como é notório, estendeu-se a um número de navios alemães em desproporção com o que era necessário a Portugal para suprir a falta de tonelagem. Mas, além disso, o mencionado artigo torna a apreensão dos navios dependente dum prévio acordo com os interessados sobre a indemnização a conceder-lhes. enquanto que o Governo português nem sequer fez a tentativa de se entender, quer directamente, quer por intermédio do Governo alemão, com as companhias de navegação. Desta forma apresenta-se todo o procedimento do Governo português como uma grave violação do Direito e do Tratado.
Por este procedimento o Governo português deu a conhecer que se considera como vassalo da Inglaterra, que subordina todas as outras considerações aos interesses e desejos ingleses. Finalmente a apreensão dos navios realizou-se sob formas em que deve ver-se uma intencional provocação à Alemanha. A bandeira alemã foi arriada dos navios alemães e em seu lugar foi posta a bandeira portuguesa com a flâmula de guerra. O navio almirante salvou por esta ocasião.
O Governo Imperial vê-se forçado a tirar as necessárias consequências do procedimento do Governo português. Considera-se de agora em diante como achando-se em estado de guerra com o Governo português.
Ao levar o que precede, segundo me foi determinado, ao conhecimento de V. Ex.ª tenho a honra de exprimir a V. Ex.ª a minha distinta consideração.»
Tradução do texto alemão entregue por Friedrich Von Rosen ao ministro português dos negócios estrangeiros, Augusto Soares.
Biografias de Políticos
- Lloyd George
Primeiro-ministro inglês, nascido em 1863 e falecido em 1945, começou por ser deputado do Partido Liberal, em 1890, e foi ministro do Comércio e das Finanças, em 1905 e 1908 respetivamente. Opôs-se à forma como a Inglaterra se envolveu na guerra dos Bóeres na África do Sul. Como ministro, influenciou a lei de pensões de reforma e a criação do Serviço Nacional de Saúde e o Fundo de Desemprego. Em 1911, enfrentou a Alemanha devido à terceira crise em Marrocos. Inicialmente opôs-se à intervenção de Inglaterra na Primeira Guerra Mundial, mas acabou por mudar de opinião aquando da invasão da Bélgica. Durante a guerra, foi ministro das Munições e ministro da Guerra, mobilizando as indústrias de material bélico. Como primeiro-ministro, soube contornar a influência do general Haig, sendo a favor do comando unificado dos Aliados pelo general Foch. Durante o seu governo enviou comboios de navios da marinha mercante para aniquilar os bloqueios dos U-boats. No final da guerra participou na elaboração do Tratado de Versalhes. Tornou-se impopular ao reconhecer o Estado livre da Irlanda, sendo-lhe retirado o apoio, facto que o levou a demitir-se. - Francisco Fernando da Áustria-Hungria
Arquiduque austríaco, nascido em 1863 e falecido em 1914, herdeiro do trono austro-húngaro, filho do arquiduque Carlos Luís e de Anunciada das Duas Sicílias. Este pensava em grandes transformações políticas para o império, considerando a hipótese de subdividir o império em cinco estados federados. Foi assassinado em Sarajevo, juntamente com a sua mulher, tendo a sua morte provocado o desencadear da Primeira Guerra Mundial. - Francisco José I
Imperador da Áustria de 1848 a 1916 e rei da Hungria entre 1867 e 1916. Neto do imperador Francisco I da Áustria (ou Francisco II, último imperador do Sacro-Império Romano-Germânico, entre 1792 e 1806), era filho do arquiduque Francisco Carlos, segundo filho de Francisco I da Áustria e irmão do sucessor deste, Fernando I (1835-1848), o qual sofria de problemas mentais e abdicou a favor do sobrinho em 1848. Nasceu Francisco José I em Viena, a 18 de agosto de 1830, no palácio de Schönbrunn. Adotou um estilo de vida austero, apesar do luxo do palácio Schönbrunn, embora mantivesse na corte um ambiente fausto de uma etiqueta estrita e de grandiosas cerimónias. Não possuindo a envergadura de um homem de Estado, demonstrou parcialidade na sua governação do império.
Em 1849 restabeleceu a dominação austríaca na Lombardia e na Hungria, beneficiando do apoio da Rússia. Tentou reorganizar o seu império sob o sistema do federalismo. Aliou-se à Alemanha na guerra dos Schleswig-Holstein e Duchés (1863-1865). O triunfo da Prússia (1866) eliminou definitivamente os Habsburgos da política alemã e obrigou Francisco José a fazer concessões substanciais à Hungria. Em 1867 o império ficou sob o regime dualista, no qual a Hungria era reconhecida como Estado igual ao da Áustria, unidos sob o mesmo monarca.
O esforço de manter unido o império refletiu-se nos acontecimentos familiares: a execução do seu irmão Maximiliano no México (1867); a morte em circunstâncias mal conhecidas do seu único filho, o arquiduque Rodolfo, herdeiro do trono (1889); o assassinato da sua mulher, a imperatriz Isabel (a famosa e trágica Sissi) por um anarquista em Genebra (1898) e o assassinato do arquiduque Francisco Fernando, seu sobrinho e herdeiro, por um sérvio quando visitava Sarajevo. Este último acontecimento viria a desencadear a Primeira Grande Guerra.
Francisco José, último grande monarca da grande família aristocrática germânica dos Habsburgos, morreu em Viena a 21 de novembro de 1916, dois anos depois de o seu império entrar em derrocada total, no decurso da Primeira Guerra Mundial. - Georges Clemenceau
Político francês, nasceu em 1841, em Movilleron-en-Pareds. Formou-se em Medicina, ciência que cedo trocou pelas atividades políticas. Com 30 anos (1871), Clemenceau integrava a Assembleia Nacional, na qual se manifestou veemente contra o Tratado da Câmara dos Deputados.
O seu posicionamento político tornava-se por vezes um pouco incómodo para alguns dos seus pares, pois defendia os ideais republicanos e anticlericais de extrema-esquerda.
A este político irreverente devem-se a queda de seis governos e a demissão do presidente da República, o que lhe conferiu o título de "o tigre".
Georges Clemenceau foi o fundador do jornal La Justice, um periódico de tendência radical, que aumentou consideravelmente a sua influência política. Em 1897 foi o responsável pela publicação de L'Aurore, onde o escritor francês Émile Zola lançouJ'accuse a propósito do caso Dreyfus.
Entre 1902 e 1920 Clemenceau foi eleito senador e entre 1906 e 1909 alcançou o cargo de primeiro-ministro, voltando a ser chamado para o cargo em 1917, em plena Primeira Guerra Mundial. Faleceu em 1929. - Guilherme II da Prússia
Guilherme II é filho do imperador Frederico III e neto de Guilherme I. Foi rei da Prússia e imperador da Alemanha de 1888 a 1918. Era um militarista entusiasta, com um conhecimento profundo dos problemas sociais, filosóficos e religiosos. Dado que não concordava com a política estrangeira de Bismarck, demite-o e substitui-o por Capuivi (1890), dando assim início ao "novo rumo", que propunha dar à Alemanha o almejado prestígio mundial. Guilherme II preconizava a política internacional como missão, a criação de uma grande potência como objetivo e a construção de uma poderosa esquadra como instrumento. As indústrias químicas, metalúrgicas e carboníferas aperfeiçoam-se e tornam-se as primeiras do mundo. Durante algum tempo, a paz interna é abalada pelas lutas sociais e os conflitos provocados pelas minorias étnicas. Entre 1890 e 1896, as relações com Inglaterra são tensas devido às ambições coloniais do imperador em África, tentando uma aproximação com a França (1904) e com a Rússia (1905), mas esta tentativa não foi em vão. Como forma de se prevenirem do poderio alemão, a Grã-Bretanha, a França e a Rússia fazem um acordo (1907) de mútua defesa em caso de guerra (Tríplice Entendimento). Como resposta a este acordo, Guilherme II faz um acordo semelhante com o império austro-húngaro e Itália (1912), aumentando assim o poderio do exército e da marinha. Em 1914, põe-se ao lado dos austro-húngaros na contenda com a Sérvia, e declara guerra à Rússia e à França. Começa assim a Primeira Guerra Mundial. Guilherme II, após a derrota e revolta do seu exército, refugia-se em Doorn, na Holanda. Faleceu em 1941. - Herbert Asquith
Primeiro-ministro britânico entre 1908 e 1916, era um liberal de convicções pacifistas que tentou mediar, sem sucesso, quando a crise piorava, no fim de julho, o que fez Berlim pensar que Londres ficaria à margem do conflito. No entanto, estava convencido de que era preciso impedir a Alemanha - que desafiava a supremacia naval da Grã-Bretanha - de dominar a Europa continental. A invasão da Bélgica, um país neutro, pelas tropas alemãs acabou com as últimas dúvidas de Londres, que se colocou ao lado dos aliados e declarou guerra à Alemanha no dia 4 de agosto.
Após o início da Primeira Guerra Mundial, dirigiu, entre 1915-1916, o primeiro gabinete de consenso nacional. Foi substituído no cargo, em dezembro de 1916, por David Lloyd George, em virtude da sua atitude vacilante na condução da guerra. Em seguida, assumiu a direção da oposição liberal na Câmara dos Comuns. Depois de ter perdido o lugar de deputado, Asquith integrou, em 1925, a Câmara dos Lordes como conde de Oxford e Asquith. Morreu em 1928. - Jorge V de Inglaterra
Jorge V de Inglaterra (1865-1936), segundo filho de Eduardo VII, nasceu em Londres e morreu em Sandringham. Foi oficial da marinha até à morte do seu irmão mais velho, o duque de Clarence.
O seu reinado vigorou entre 1910 e 1936. A sua subida ao trono, em 1910, deu-se aquando da crise causada pela lei sobre os poderes da Câmara dos Lordes e a Lei Parlamentar, que conseguiu solucionar com o agrado de toda a nação. Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) soube enfrentar com tenacidade as dificuldades enfrentadas pelo seu país. Assumiu um papel preponderante como moderador na questão com a Irlanda. Em 1924 mostrou respeito pelo primeiro Governo Trabalhista e ajudou ao fortalecimento da Commonwealth. - Nicolau II
Último monarca da longa dinastia dos Romanov e derradeiro czar da Rússia, Nicolau II ascendeu ao trono em 1894, com 26 anos, sucedendo a Alexandre III. Pautou-se por uma política absolutista, por vezes mesmo cruel, o que leva muitos historiadores a considerá-lo um monarca a quem faltava sentido político. Os desastres na guerra contra o Japão (1904-1905) suscitaram o descontentamento, que se viria a alastrar com a entrada da Rússia na Primeira Guerra Mundial. O país encontrava-se fortemente marcado pelas desigualdades, causadoras de grande revolta nas classes operárias, já fortemente influenciadas pelas ideias comunistas, que faziam greves incontroláveis. A situação, de facto, era propícia a uma mudança radical. Em fevereiro de 1917, dava-se a Revolução Russa. Os revolucionários responsabilizaram o monarca pela repressão das manifestações populares, e a 3 de março de 1917 Nicolau II viu-se forçado a abdicar do trono. Era, aliás, uma decisão apoiada pela Alemanha, que desejava ver a Rússia fora do palco da guerra. Juntamente com a czarina, os filhos e os servidores pessoais, Nicolau II foi assassinado pelos bolcheviques no período da guerra civil, em 1918. Durante muitos anos, circularam lendas que evocavam a sobrevivência de alguns membros da família. Foi preciso esperar pela década de 90 para que os cientistas provassem, através de análises ao ADN, que os restos descobertos do czar e da sua família lhes pertenciam efetivamente, e que ninguém sobrevivera. - Vitorino Emanuel Orlando
Político italiano nascido em 1860. Ocupou vários cargos políticos entre 1903 e 1916: Ministro da Educação, da Justiça e do Interior. Após o desastre militar italiano na Primeira Guerra Mundial em Caporetto, em 25 de Outubro de 1917, que levou à queda do governo Boselli, Orlando tornou-se primeiro-ministro, e continuou nesse papel pelo resto da guerra. Ele tinha sido um forte apoiante da entrada da Itália na guerra. Orlando foi encorajado em seu apoio dos aliados por causa das promessas secretas feitas pelos últimos ganhos significativos territoriais promissores na Dalmácia (no Tratado de Londres de 1915).
Os italianos mais tarde ganharam a batalha de Vittorio Veneto, em novembro de 1918, um feito que coincidiu com o colapso do exército austro-húngaro e o fim da Primeira Guerra Mundial na frente italiana, bem como o fim do Império Austro-Húngaro. O fato de que a Itália se recuperou e acabou do lado vencedor, em 1918, ganhou para Orlando o título de "Premier da Vitória." Faleceu em 1952. - Raymond Poincaré
Político francês, nascido em 1860 e falecido em 1934, foi primeiro-ministro e presidente, começou por ser eleito para a Câmara dos Deputados como republicano, em 1887, assumindo várias pastas ministeriais. Foi eleito para o Senado em 1903. Durante o seu governo, em 1912, consolidou a aliança com a Inglaterra e Rússia. No ano anterior à eclosão da Primeira Guerra Mundial, foi eleito presidente. Durante o período de guerra nomeou Clemenceau primeiro-ministro e tentou unir a França neste período conturbado. Foi reeleito primeiro-ministro em 1922 e, durante este seu mandato, sucedeu-se uma grave crise económico-financeira, que só iria resolver no mandato seguinte em 1926. Afastou-se da vida política em 1929. - Thomas Woodrow Wilson
Político norte-americano nascido em 1856, em Staunton, Virgínia, e falecido em 1924, em Washington. Foi reitor da Universidade de Princeton e em 1911, como membro do Partido Democrata tornou-se governador de New Jersey. Foi o vigésimo oitavo presidente norte-americano, entre 1913 e 1921. Durante a Primeira Guerra Mundial, conseguiu elevar os Estados Unidos da América a primeira potência mundial. Como tentativa de negociar a paz formulou Os Catorze Pontos que se fundavam no direito dos povos e na segurança coletiva e esteve na origem da criação da Sociedade das Nações. Em 1919 foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz.
Biografias de Militares
- Edmund Allenby
General Britânico (1861-1936) que se tornou famoso pelo seu papel durante a Primeira Guerra Mundial, quando conduziu a Força expedicionária egípcia contra os Otomanos na conquista da Palestina e Síria em 1917 e 1918. - Aleksei Brusilov
General de cavalaria russa (1853-1926), assumiu o comando das tropas russas após as desastrosas derrotas de 1914 e 1915 e reorganizou suas linhas de defesa, conseguindo lançar um contra-ataque em 1916, batizado de Ofensiva Brusilov, que ajudou a aliviar os franceses em Verdun e ingleses no Somme. - Douglas Haig
Oficial britânico (1861-1928), foi o comandante sénior (marechal-de-campo), durante a Primeira Guerra Mundial. Haig comandou a Força Expedicionária Britânica de 1915 até o fim da guerra. Notabilizou-se ao comandar seu exército durante a Batalha do Somme e Terceira Batalha de Ypres, em sucessivas vitórias até a rendição alemã em1918. - Erich von Falkenhayn
General de infantaria (1861-1922) que comandou as tropas alemãs na França durante a Batalha de Verdun. Derrotado, foi substituído (por Ludendorff e Hindenburg) e depois comandou as forças alemãs na conquista da Roménia e na Campanha da Palestina. - Ferdinand Foch
Militar francês (1851-1929) que comandou as forças da Tríplice Entente ou dos Aliados em 1914 de uma forma decisiva, levando à vitória do Marne. Dirigiu com êxito operações na Flandres; como adjunto de Joseph Joffre, coordenou as operações dos exércitos franceses, belgas e britânicos. Em 1917 assumiu o cargo de chefe de Estado-Maior do Exército Francês e em 1918 o comado de todas as forças aliadas, somou mais uma vitória ao conseguir ganhar a Segunda Batalha do Marne. Um grande admirador de sua pessoa foi, Winston Churchill se referia a ele com grande respeito, levando em consideração sua perspicácia em relação ao Tratado de Versalhes, dizendo que a paz duraria somente 20 anos. Sua afirmação foi certa, pois, 2 meses depois do tratado completar 20 anos, Adolf Hitler inicia a Invasão da Polônia, dando início a Segunda Guerra Mundial. - John Joseph Pershing
Militar Americano (1860-1948) que, em 1917, foi nomeado comandante-chefe do exército Norte-americano que combateu na Flandres. - Joseph Jacques Césaire Joffre
General francês (1852-1931) que comandou o exército na Primeira Guerra Mundial, durante os anos de 1914 a 1916. Tornou-se conhecido principalmente pela retirada do Exército Aliado e pela derrota alemã na Primeira batalha do Marne em 1914. Por causa de sua popularidade, recebeu o apelido de Papa Joffre. - Louis Franchet d'Esperey
General fancês (1856-1942) que comandou as tropas da Entente nos Balcãs, depois de 4 anos de impasse, forçou a rendição da Hungria e da Bulgária. - Erich von Ludendorff
General prussiano, nascido em 1865 e falecido em 1937, foi o chefe do Estado-Maior de Hindenburg na frente leste da Primeira Guerra Mundial e, em 1916, foi para a frente ocidental depois da derrota da ofensiva de Verdun. Planeou o último grande ataque alemão em 1918, mas foi derrotado por Foch nesse mesmo ano. Defendeu a via das negociações e não da rendição. Em 1920, participou no golpe de Estado de Kapp e de Hitler, em 1923, em Munique. Chegou mesmo a ser um candidato presidencial do Partido Nazi em 1925. Fundou um pequeno partido após a sua derrota nas eleições. - Paul von Hindenburg
General alemão (1847/10/02-1934/08/02) nascido em Posen (hoje Poznan, Polónia). Foi segundo presidente da República de Weimar. Foi educado na escola de cadetes de Berlim; entrou no exército prussiano em 1866, onde esteve cerca de 40 anos, servindo na Guerra das Sete Semanas e na Guerra Franco-Prussiana. No início da Primeira Guerra Mundial, em agosto de 1914, já retirado da vida militar, aceitou comandar o Oitavo Exército Alemão na fronteira russa. Ele e o general Erich Ludendorff conseguiram uma estrondosa vitória sobre os russos na batalha de Tannenberg; nomeado marechal de campo em 1916, torna-se, com o mesmo Ludendorff, responsável pela direção de todas as forças alemãs. Em março de 1917, Hindenburg estabeleceu um sistema de trincheiras através do Norte de França, conhecido pelo nome de "Linha de Hindenburg", só ultrapassado pelos Aliados em outubro de 1918. Depois da guerra, retirou-se do exército pela segunda vez. Em 1920, nas suas memórias (em inglês Out of my life), explica que a derrota alemã na guerra deveu-se a uma revolução interna que pôs fim ao império alemão e estabeleceu a república em 1919. Em 1925 foi eleito presidente da República e, apesar de pretender a unidade da Alemanha, promoveu os interesses dos junkers prussianos, isto é, a aristocracia terratenente. Em 1932 voltou a concorrer às eleições presidenciais como o único candidato capaz de derrotar o partido nazi de Adolf Hitler, o que veio a acontecer; contudo, em 30 de janeiro de 1933, Hindenburg viria a nomear Hitler chanceler, a quem o Reichstag (Parlamento) viria a dar poderes ditatoriais; a partir de então, Hindenburg era uma simples figura decorativa no Governo germânico. - Philippe Pétain
Marechal e político da direita francesa, nascido em 1856 e falecido em 1951, Henri-Philippe Pétain tornou-se herói nacional em Verdun, durante a Primeira Guerra Mundial. Após a derrota francesa de 1940, assinou um armistício com os alemães e assumiu em Vichy a chefia do Estado de um modo autoritário. O seu governo (1940-1944) oscilou entre o colaboracionismo com Hitler e alguma resistência às exigências nazis. No fim da Segunda Guerra Mundial entregou-se às novas autoridades e foi condenado à morte, mas a pena foi comutada em prisão perpétua. - Radomir Putnik
Marechal Sérvio (1847-1917) que derrotou o Império Austro-Húngaro no primeiro ataque à Sérvia em 1914. Em 1915, a Bulgária declara guerra à Sérvia e invade a região da Macedónia, as forças sérvias não conseguem suster esta ofensiva. Em 25 de novembro, Putnik ordena a retirada geral das tropas sérvias, que fugiram para a Albânia e Montenegro. Navios franceses transportaram as tropas sérvias para Corfu, na Grécia. Putnik estava tão debilitado que teve que ser carregado, ele sofria de bronquite, pneumonia e gripe. A Sérvia rendeu-se e todos os generais e oficiais sérvios foram demitidos, inclusive Putnik. - Paul von Lettow-Vorbeck
General alemão (1870-1964) que comandou tropas coloniais afro-alemãs na campanha da África-Oriental. Derrotou forças coloniais anglo-indianas (8 vezes superiores em numero) na Batalha de Tanga e depois manteve uma campanha de guerrilhas que se manteve até o final da guerra. Apesar de pouco conhecida, sua unidade foi a única a ser premiada com um desfile de vitória em Berlim, pois nunca foi derrotada. - Mustafa Kemal
Oficial do exército (1881-1938), comandou o exército turco na vitória sobre tropas do Império Britânico na Campanha de Gallipoli, e depois as forças defensoras turcas no Oriente Médio. Com a derrota sofrida pelo Império Otomano nas mãos dos Aliados, e os planos subsequentes para a partilha de seu território, Mustafa Kemal liderou o Movimento Nacional Turco naquela que se tornaria conhecida, posteriormente, como a Guerra de Independência Turca; após estabelecer um governo provisório em Ancara, derrotou as forças enviadas pela Tríplice Entente. Suas campanhas militares bem-sucedidas asseguraram a liberação do país e a proclamação da república no lugar do antigo governo imperial otomano.
Como primeiro presidente da Turquia, Atatürk embarcou num ambicioso programa de reformas políticas, económicas e culturais. Um admirador do Iluminismo, Atatürk procurou transformar as ruínas do Império Otomano numa nação-Estado democrática e secular.
Balanço final da guerra
Os Tratados pós-guerra
- Tratado de Versalhes (1919)
Tratado de paz elaborado no final da Primeira Guerra Mundial pelas nações aliadas e cujo texto foi imposto à Alemanha vencida. A assinatura decorreu na Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes, em França, a 28 de junho de 1919, tendo o tratado entrado em vigor a 10 de junho do ano seguinte. Para assegurar o entendimento político e a paz entre os países, o tratado previa a constituição da Sociedade das Nações, a redução do território alemão em cerca de 10% com a entrega da Alsácia e da Lorena à França, a desmilitarização da Alemanha e o pagamento por parte desta de pesadas indemnizações de guerra. Pela sua severidade para com a principal nação derrotada, o Tratado de Versalhes constituiu, na perspetiva da Alemanha, uma penosa humilhação. Desta forma, tanto pelo descontentamento que gerou como pelas dificuldades económicas que impôs aos alemães nos anos seguintes, ajudou a criar condições para a ascensão de Adolf Hitler ao poder, nos anos 30, e, em consequência, para o retorno a um conflito em larga escala, no qual a Alemanha defrontaria novamente nações como a França e a Inglaterra - a Segunda Guerra Mundial. - Tratado de Saint-Germain
Tratado de paz acordado entre os Aliados e a Áustria depois da I Guerra Mundial, assinado em Saint-Germain-en-Laye, em França, a 10 de setembro de 1919. Este tratado exigia da Áustria, o último reduto do Império Austro-Húngaro, o reconhecimento da soberania da Hungria, a cedência de territórios ao reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, que depois tomou o nome de Jugoslávia, à Checoslováquia, Polónia, Roménia e Itália, e também a aceitação dos regulamentos que obrigavam a respeitar as minorias étnicas dentro das fronteiras austríacas. As cláusulas militares permitiram à Áustria um exército voluntário de 30 000 homens, mas a Marinha austro-húngara foi destruída e distribuída entre os Aliados. Foram igualmente estabelecidas compensações económicas pelos prejuízos causados pela guerra, embora o dinheiro nunca tenham sido pagas.
O Artigo 88, que proibia qualquer ato que comprometesse a independência austríaca, foi criado para precaver uma futura aliança com a Alemanha. Este artigo foi responsável pelo clima de tensão nas relações da Alemanha com a Áustria nos anos trinta, que culminaram com a anexação da Áustria por Adolf Hitler, em 1938. - Tratado de Trianon
O território húngaro foi dividido, sob o Tratado de Trianon (4 de junho de 1920), entre a Roménia, a Checoslováquia, a Jugoslávia, a Áustria, a Polónia e a Itália, ficando a Hungria com praticamente a área que possui nos nossos dias. - Tratado de Sèveres
Acordo de paz assinado entre os Aliados e o Império Otomano em 10 de outubro de 1920, após a Primeira Guerra Mundial.
As suas cláusulas consagravam a perda, pela Turquia, não apenas da Palestina, Síria, Líbano e Mesopotâmia, mas também praticamente de todos os territórios turcos na Europa (com exceção de Constantinopla) e da região de Esmirna, ambas entregues à Grécia. Além disso, o tratado estipulava que os estreitos de Bósforo e dos Dardanelos, assim como o mar de Mármara, seriam transformados em zonas neutras desmilitarizadas (internacionalizadas) e sua travessia permitida, em quaisquer circunstâncias, a todos os navios estrangeiros, mercantes ou de guerra.
Europa pós-guerra (1922)